Normalmente costuma-se brincar, quando uma comida é muitíssimo gostosa e saborosa, dizendo um “desconfie, fique atento, porque talvez isso já seja um indicativo de que ela não seja tão saudável e benéfica assim para o organismo”. No entanto, até que ponto isso é ou não verdade?
Ao pensarmos na palavra
genérica gordura, invariavelmente fazemos a correlação aos seus aspectos
negativos, tratando-a como uma verdadeira vilã inimiga do corpo. Esquecemos,
entretanto, de considerar seus diversos benefícios e a sua indispensável
participação para um pleno exercício do organismo. Vejamos, dessa forma, um
pouco mais sobre essa personagem.
A principal fonte de
energia do corpo é constituída pelos carboidratos. Tanto os carboidratos
simples (açúcares) quanto os complexos (amidos) são facilmente digeridos e
convertidos em glicose, o principal combustível do organismo. No entanto, enquanto os carboidratos
complexos são absorvidos mais lentamente, os carboidratos simples são
absorvidos com mais rapidez e facilidade. A glicose que não é “queimada”, que
não é metabolizada imediatamente, fica armazenada na forma de gordura.
Existem três tipos de
gordura dietética: saturada, poliinsaturada e monoinsaturada. A maioria dos
alimentos gordurosos contém uma mistura de gorduras saturadas e insaturadas.
Consumir qualquer tipo de gordura em excesso provoca ganho de peso, entretanto,
o consumo de quantidades exageradas de gordura saturada, em particular, aumenta
as chances de se desenvolver câncer, doença cardíaca, diabetes, hipertensão e
outros problemas de saúde. Este tipo de gordura também eleva o nível de
colesterol no sangue e seu consumo diário não deve ultrapassar 10% de todas as
calorias consumidas.
No entanto, nem sempre
essa foi aporcentagem indicada. Como a revista VEJA mencionou em sua Edição 2275 - ano 45
- nº 26 - 27 de junho de 2012, até recentemente o máximo de gordura saturada
preconizado era de 7% do total de calorias ingeridas diariamente, e não os
atuais 10%. É certo que consumir menos gordura e colesterol é fundamental, isto
é, comê-los de forma moderada e não abusiva. Entretanto, a gordura saturada é
também uma fonte necessária de energia e de vários compostos químicos (está
associada, por exemplo, à fabricação dos hormônios sexuais e à integridade das
membranas celulares), além de auxiliar na absorção e utilização de nutrientes
solúveis em gordura, como o beta-caroteno e as vitaminas A, D, E e K.
Além dos três tipos de gordura
dietética supracitados, há ainda um quarto grupo que se diferencia dos demais
por apresentar uma estrutura química incomum, induzida pelo processamento
industrial dos alimentos. São as chamadas gorduras trans. Estas são gorduras
vegetais alteradas que, de acordo com algumas pesquisas, sugerem que sejam tão
nocivas à saúde quanto as saturadas. Elas são encontradas, por exemplo, nas
margarinas, nos biscoitos, nos chocolates, nos sorvetes e nas maioneses.
O excesso de gordura transportado
pelo sangue, entretanto, pode causar vários problemas de saúde, entre os quais
a aterosclerose. A gordura não é dissolvida em água (ou no sangue), mas
separa-se dela, assim como ocorre com o óleo na superfície da água. O organismo
geralmente aglomera a gordura na forma de triglicerídeos. Os triglicerídeos,
assim como o colesterol, são transportados por moléculas denominadas
lipoproteínas. Sabemos que o excesso de algumas
lipoproteínas, como as LDLs, fazem mal à saúde, enquanto os altos níveis de
outras lipoproteínas, como as HDLs, são benéficas (como já fora explicado em
posts anteriores). Diversos estudos médicos já demonstraram que ter pouco HDL e
excesso de LDL é indicativo de alto risco para doença cardíaca, infarto e
outros problemas de saúde.
Consumir menos gordura e colesterol,
portanto, tem um peso maior para melhorar a saúde cardiovascular de uma forma
geral do que para o próprio tratamento da hipertensão. No entanto, resultados
demonstram que comer menos gorduras saturadas e mais fibras podem baixar a
pressão, uma vez que essas (as fibras) possivelmente diminuem a quantidade de
insulina circulante no organismo,podendo auxiliar também na eliminação de mais
sódio, contribuindo para uma consequente redução da pressão arterial.
Associar as gorduras como sendo as
grandes vilãs do organismo é, com efeito, um grande equívoco. No entanto,
partir para o extremo oposto, relevando apenas seus aspectos positivos,
certamente é outro. Devemos procurar conhecer as duas facetas que as envolvem,
analisando-as de forma a buscar o balanço ideal entre elas. A revista VEJA
supracitada, em sua matéria intitulada “A redenção da gordura”, busca retomar
essa importância das gorduras, objetivando desmistificar a demonização que foi
criada em torno delas.
Na reportagem, a afirmação “a
gordura saturada consumida em demasia nem sempre é maléfica” torna-se, no
mínimo, intrigante. A sua explicação, entretanto, é pontual e direta: ”por um
único e simples motivo: ela tem várias versões”. A seguir, ao discriminar essas
várias versões da gordura saturada, destacando quatro (láurica, mirística,
palmítica e oleica), cria-se ascondições para se ampliar os horizontes,
amadurecendo a ideia de que as gorduras, as saturadas em especial, trazem
também consigo grandes benefícios.
Precisa-se tomar cuidado,
entretanto, para não incorrer no erro de, já que as gorduras saturadas também
fazem bem, abusar delas durante as refeições. Como já fora dito, é
imprescindível buscar o equilíbrio, o balanço ideal entre o consumo das
gorduras e os demais alimentos, visando, com isso, não apenas evitar as doenças
cardiocirculatórias ou uma possível hipertensão arterial, mas, sobretudo,
manter um padrão e uma qualidade de vida melhor e mais prazerosa.
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