segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Gorduras X Hipertensão


            Normalmente costuma-se brincar, quando uma comida é muitíssimo gostosa e saborosa, dizendo um “desconfie, fique atento, porque talvez isso já seja um indicativo de que ela não seja tão saudável e benéfica assim para o organismo”. No entanto, até que ponto isso é ou não verdade?
            Ao pensarmos na palavra genérica gordura, invariavelmente fazemos a correlação aos seus aspectos negativos, tratando-a como uma verdadeira vilã inimiga do corpo. Esquecemos, entretanto, de considerar seus diversos benefícios e a sua indispensável participação para um pleno exercício do organismo. Vejamos, dessa forma, um pouco mais sobre essa personagem.
            A principal fonte de energia do corpo é constituída pelos carboidratos. Tanto os carboidratos simples (açúcares) quanto os complexos (amidos) são facilmente digeridos e convertidos em glicose, o principal combustível do organismo.  No entanto, enquanto os carboidratos complexos são absorvidos mais lentamente, os carboidratos simples são absorvidos com mais rapidez e facilidade. A glicose que não é “queimada”, que não é metabolizada imediatamente, fica armazenada na forma de gordura.
            Existem três tipos de gordura dietética: saturada, poliinsaturada e monoinsaturada. A maioria dos alimentos gordurosos contém uma mistura de gorduras saturadas e insaturadas. Consumir qualquer tipo de gordura em excesso provoca ganho de peso, entretanto, o consumo de quantidades exageradas de gordura saturada, em particular, aumenta as chances de se desenvolver câncer, doença cardíaca, diabetes, hipertensão e outros problemas de saúde. Este tipo de gordura também eleva o nível de colesterol no sangue e seu consumo diário não deve ultrapassar 10% de todas as calorias consumidas.
            No entanto, nem sempre essa foi aporcentagem indicada. Como a revista VEJA mencionou em sua Edição 2275 - ano 45 - nº 26 - 27 de junho de 2012, até recentemente o máximo de gordura saturada preconizado era de 7% do total de calorias ingeridas diariamente, e não os atuais 10%. É certo que consumir menos gordura e colesterol é fundamental, isto é, comê-los de forma moderada e não abusiva. Entretanto, a gordura saturada é também uma fonte necessária de energia e de vários compostos químicos (está associada, por exemplo, à fabricação dos hormônios sexuais e à integridade das membranas celulares), além de auxiliar na absorção e utilização de nutrientes solúveis em gordura, como o beta-caroteno e as vitaminas A, D, E e K.
            Além dos três tipos de gordura dietética supracitados, há ainda um quarto grupo que se diferencia dos demais por apresentar uma estrutura química incomum, induzida pelo processamento industrial dos alimentos. São as chamadas gorduras trans. Estas são gorduras vegetais alteradas que, de acordo com algumas pesquisas, sugerem que sejam tão nocivas à saúde quanto as saturadas. Elas são encontradas, por exemplo, nas margarinas, nos biscoitos, nos chocolates, nos sorvetes e nas maioneses.
            O excesso de gordura transportado pelo sangue, entretanto, pode causar vários problemas de saúde, entre os quais a aterosclerose. A gordura não é dissolvida em água (ou no sangue), mas separa-se dela, assim como ocorre com o óleo na superfície da água. O organismo geralmente aglomera a gordura na forma de triglicerídeos. Os triglicerídeos, assim como o colesterol, são transportados por moléculas denominadas lipoproteínas. Sabemos que o excesso de algumas lipoproteínas, como as LDLs, fazem mal à saúde, enquanto os altos níveis de outras lipoproteínas, como as HDLs, são benéficas (como já fora explicado em posts anteriores). Diversos estudos médicos já demonstraram que ter pouco HDL e excesso de LDL é indicativo de alto risco para doença cardíaca, infarto e outros problemas de saúde.
            Consumir menos gordura e colesterol, portanto, tem um peso maior para melhorar a saúde cardiovascular de uma forma geral do que para o próprio tratamento da hipertensão. No entanto, resultados demonstram que comer menos gorduras saturadas e mais fibras podem baixar a pressão, uma vez que essas (as fibras) possivelmente diminuem a quantidade de insulina circulante no organismo,podendo auxiliar também na eliminação de mais sódio, contribuindo para uma consequente redução da pressão arterial.
            Associar as gorduras como sendo as grandes vilãs do organismo é, com efeito, um grande equívoco. No entanto, partir para o extremo oposto, relevando apenas seus aspectos positivos, certamente é outro. Devemos procurar conhecer as duas facetas que as envolvem, analisando-as de forma a buscar o balanço ideal entre elas. A revista VEJA supracitada, em sua matéria intitulada “A redenção da gordura”, busca retomar essa importância das gorduras, objetivando desmistificar a demonização que foi criada em torno delas.
            Na reportagem, a afirmação “a gordura saturada consumida em demasia nem sempre é maléfica” torna-se, no mínimo, intrigante. A sua explicação, entretanto, é pontual e direta: ”por um único e simples motivo: ela tem várias versões”. A seguir, ao discriminar essas várias versões da gordura saturada, destacando quatro (láurica, mirística, palmítica e oleica), cria-se ascondições para se ampliar os horizontes, amadurecendo a ideia de que as gorduras, as saturadas em especial, trazem também consigo grandes benefícios.
            Precisa-se tomar cuidado, entretanto, para não incorrer no erro de, já que as gorduras saturadas também fazem bem, abusar delas durante as refeições. Como já fora dito, é imprescindível buscar o equilíbrio, o balanço ideal entre o consumo das gorduras e os demais alimentos, visando, com isso, não apenas evitar as doenças cardiocirculatórias ou uma possível hipertensão arterial, mas, sobretudo, manter um padrão e uma qualidade de vida melhor e mais prazerosa.         

           
           
            

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